Detinha era cicloativista, educadora ambiental e figura fundamental para o movimento na capital capixaba
por Hudson Lupi Ribeiro
No dia 01 de Julho de 2022 completaram-se 6 anos desde que Detinha voltava de uma conferência em Bento Ferreira sobre mobilidade mais humana e foi atingida por uma porta de carro aberta por um motorista que não olhou antes, para se certificar que isso não constituía perigo, desrespeitando assim o artigo 49 do Código de Trânsito Brasileiro. A voz embargada e o sentimento de saudades imperavam durante todo o processo de acionar sua memória, seus vídeos registrados na Internet e nossas lembranças das convivências em tantas ações, audiências, bicicletadas e planos coletivos… A organização se fez importante mas difícil, muitas amigas próximas não conseguiram ir, seja por compromissos ou pela dor que se é acionado a estar naquele local.
Saímos do Teatro da Ufes às 18h05, só uma pessoa veio de lá. Antes, no caminho, foram colados vários lambes na Ponte da Passagem, da Campanha Amazônia Passa Aqui, com os nomes das ciclistas vítimas do trânsito mais recentes e com um apelo para o acalmamento de nossos trajetos com o “Desacelera Vitória”.
Fomos pela ciclovia central na av. Leitão da Silva, onde os carros só falltam voar – e têm feito isso e passando por cima da ciclovia com sua frágil “estrutura de proteção”. Lá percebi que em alguns pontos os adesivos da campanha haviam sido retirados… Ao chegar na Bici Ghost de Detinha, a emoção foi forte e instantânea. O cantor do bar, agora em frente à bici, entoava um belo “Gostava tanto de você” de Tim Maia:
“Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar
Você marcou na minha vida
Viveu, morreu na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão que em minha porta bate”
Começamos então a Revitalização da Bici Ghost, todos logo chegaram e começamos a mexer na bicicleta, que estava tão bem fixa no poste que até desistimos de retirá-la para fazer a manutenção no chão. Contextualizamos brevemente sobre a Campanha e o Circuito Guanaanira, as pessoas estavam focadas em realizar o serviço, lembrar da memória de Detinha, Luiz contava como exatamente foi o “acidente”, comíamos, conversávamos e enchemos o poste de lambe lambes.
A revitalização demandou bastante tempo, pois cada um por vez tinha que subir para pintar com o spray, o que possibilitou a todes deixarem sua contribuição na ação e na homenagem para Detinha, cuja bici agora, além de branca, ficou colorida e alegre, com a paleta da Campanha. Mais uma vez, nesse tipo de ação que envolve algo que demanda trabalho em paralelo (como a Escola Bike Anjo), não foi possível um momento em que todes parassem ao mesmo tempo para se ouvir e conversar. As conversas foram feitas com todes em paralelo, chamando para as ações da Campanha, falando sobre o Circuito, lembrando antigas ações de intervenção urbana em prol do verde na cidade e combinando novas ações que envolvem mobilidade e a Natureza.